Este Natal fiz uma romagem noturna pelos locais da minha infância na companhia do meu pai e de um dos meus irmãos. A pretexto de irmos ver as fogueiras passámos pela Rua D'Ega, a rua onde eu e os meus irmãos nascemos e onde vivi até aos 9 anos. Foi um reviver o passado de criança. À noite estas ruas antigas mantêm muito do mistério que lhes encontrava então. E lá revivemos o acesso ao Lactário e ao Jardim Escola João de Deus, uma rua esconsa que fazia as traseiras do Jardim do Paço. E lá revivemos os cheiros que encontrávamos quando subíamos ao muro.
Agora tem uma placa ao fundo, a dizer que ali começava a Judiaria. Olha o que a gente aprende! Não fazia ideia. Está mais linda a minha rua. Arranjaram-lhe o piso, já não tem aquelas pedras redondas que nos faziam cair, puídas de tantos anos e tantas gentes. Era uma rua de acesso ao Castelo, uma rua muito empinada. Quando chegávamos a casa depois das correrias de meninos íamos sempre quentes mesmo no Inverno. Uma rua onde já não encontrei a Lurdes Fandinga em casa de quem vi pela primeira vez televisão. Que será feito dela? Lembro-me da cara dela com os seus cinco anos e da mãe sempre a protegê-la dos galfarros que lhe queriam invadir a casa. Xô, que a minha menina não é para esta gente, é menina educada.
E a taberna onde íamos comprar os "meios quartilhos" de vinho para a comida (ou para as visitas). Desses ainda conheço o filho mais velho, sindicalista como eu, do STAL, creio. Nas manifs ainda nos saudamos, a medo, que o conhecimento é pouco.
Bem, no dia em que completo 56 anos deu-me para isto. Para não me esquecer onde comecei e onde volto sempre que posso.